Casos de professor: Eu, a calcinha vermelha e o flamenguista.

Infelizmente não me lembro de alguns detalhes futebolísticos desse caso, mas não creio que tal esquecimento irá comprometer a sua compreensão. Estava escrevendo no quadro de uma sala de ensino noturno e enquanto isso dois alunos discutiam sobre futebol, “Marrequinho” era Vascaino enquanto Wander era flamenguista. Duas coisas naquela conversa me irritavam, a primeira era a hora errada e a segunda a arrogância do flamenguista. Pensei em interromper o papo, mas a curiosidade era maior e deixei rolar, acho que esse foi o meu maior erro.

O campeonato estava no começo e o Flamengo muito mal classificado, mas isso não  impedia Wander de fazer prognósticos de que seu time seria campeão. Os flamenguistas sabem ser irritantes, parece que é uma condição para vestir aquele uniforme preto e vermelho. Chegou uma hora que cansei daquela conversa e pedi aos alunos que parassem, foi quando ouvi:

– Ai o tricolor não gosta de ouvir a verdade e só porque é professor quer sufocar a voz dos flamenguistas.

Eu deveria ter ficado quieto, engolido a seco e voltado a falar da Reforma Protestante, Renascimento ou coisa parecida. Mas respondi:

– Olha a classificação do seu time e depois venha conversar comigo. Ele não se deu por vencido, me respondeu e lançou o desafio:

– Meu time está muito atrás do Fluminense e do Vasco, mas eu aposto com vocês que ele termina o campeonato na frente dos dois. E digo mais, aposto com você que os dois perdedores deverão vir a sala de aula de calcinha na cor do time vencedor (podia ser sobre a calça, não tinha problema). A sala toda riu, inclusive eu. É lógico que não aceitei, sou um professor sério e jamais aceitaria uma aposta dessas, se bem que….

No outro dia o Flamengo jogou e perdeu, dei uma risada e fiz um comentário na mesma sala, fazendo chacota do flamenguista, ele sorriu e me desafiou novamente: – E então? Vai aceitar a aposta? Fiquei olhando para o moleque, a sala pedindo para eu aceitar, o Vascaino dizendo que caso eu aceitasse ele também aceitaria. A pressão foi crescendo e eu acabei aceitando, pura idiotice.

O campeonato era longo e eu jamais imaginava que o flamengo pudesse se recuperar. O problema é que sou formado em História e não em estatística ou Educação Física, depois da aposta o Fluminense e o Vasco entraram em decadência e o Flamengo começa a reagir. Entrar naquela sala passou a ser um suplício, tinha que ouvir coisas do tipo: “calcinha vermelha combina com o que?”, “professor sabe a classificação do campeonato?”… chegamos em julho, com as férias esperava que a aposta caísse em esquecimento, mas não foi isso que aconteceu, começou a bater o desespero.

Comecei a pensar se aquele “adorável” aluno não gostaria de ganhar um pote de sorvete ou uma caixa de chocolates, mas sabia que o danado jamais aceitaria. Enfim, foi com muito constrangimento e gargalhadas que dei duas aulas vestido de calça jeans e sobre ela uma calcinha vermelha que uma aluna fez questão de levar, caso o meu esquecimento continuasse a me impedir de pagar a aposta. Por isso eu digo:

– Jamais aposte com alunos, muito menos com os flamenguistas (raça ruim sô!) 🙂

Apesar do vexame sinto saudades daquela molecada!!!!